SERGIO CABRAL

SERGIO CABRAL

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015



Marina Colasanti (escritora)
“Não leio para me distrair, leio por paixão, para saber, para aprender, para melhorar.”



Deslizei para dentro dos livros
Não tenho uma primeira lembrança, a emoção de um primeiro livro. Talvez porque sempre houve livros ao meu redor. Antes que eu soubesse ler, liam para mim. Ninguém nunca me contou contos, eles eram lidos. Desse modo, a presença física do livro está plantada no início da minha memória. E deslizei para dentro dos livros, como leitora, tão naturalmente, que nem me dei conta. O que recebi primeiro, das leituras que faziam para mim e, depois, dos primeiros livros, foram os contos de fadas clássicos.
Todas as histórias lidas fazem parte de mim
Centenas e centenas e centenas de histórias fazem parte de mim. Todas as lidas na infância e na juventude, com emoção e entrega. E mesmo depois, histórias inteiras ou fragmentos de histórias se abrigaram na minha memória, parte definitiva do meu butim de leitora. Venho lendo desde sempre, sem interrupção, há muitíssimos anos. A partir da maturidade passei a ler vários livros ao mesmo tempo. Impossível listar todas essas histórias, ou sequer as mais importantes.

Autores? Vários...
Os autores entraram por fornadas na minha vida. Fornadas de paixão, fornadas de oportunidade. Os contos de fadas, primeiro. Depois os clássicos adaptados (Ilíada, Odisseia, D. Quixote, Poe, Sir Walter Scott, os Mitos gregos, etc.). Seguiram-se os livros de capa e espada, muito Alexandre Dumas. Muitíssimos livros do italiano Emilio Salgari. Mark Twain. Todo Julio Verne. Swift. Defoe. Aí chega a adolescência. Dostoyevski foi um deslumbramento. E Tchecov, e Tolstoi. Depois descobri os americanos, Steinbeck, Hemingway, Dos Passos, Huxley, Fitzgerald. Cheguei à poesia, Aldo Palazzeschi primeiro, depois Cesare Pavese, Paul Eluard foi e é uma paixão, Bandeira e Drummond, Lorca. Encontrei o prosador francês Jean Giono, li um monte de livros dele, descobri a literatura japonesa.   E fui em frente na idade adulta, alternando de forma mezzo aleatória/ mezzo caótica, autores de diversos países, prosa e poesia, modernidade e passado. É impossível conseguir a completude dessa lista, não cabe na memória. E nunca poderia dá-la como terminada, uma vez que minha formação como leitora ainda está em curso, e se expande a cada novo livro que leio. Não leio para me distrair, leio por paixão, para saber, para aprender, para melhorar. No dia em que a leitura não estiver mais me formando, paro de ler.

Escola e leitura

Sou de outra escola, pelo menos no que diz respeito àquilo que chamávamos escola primária. Fiz o primário na Itália. E, nesse nível, a formação leitora não era tarefa da escola. Quem se encarregava disso era a família.



“A leitura não é a chave mágica para o acerto ou o sucesso.”
A leitura não é a mesma para todos os leitores. E sua atuação é diferente sobre cada leitor. Sobretudo, a leitura não é a chave mágica para o acerto ou o sucesso.
Muitos leitores leem apenas para se distrair, outros só se interessam por livros técnicos.  Isso não vai mudar seu modo de vida. A grande maioria dos livros que se publicam nada têm de enriquecedor.
A leitura de literatura, e isso é comprovado, é auxiliar poderoso no auto-conhecimento. E quem melhor se conhece está mais capacitado para fazer boas escolhas.
O efeito da leitura depende de uma conjunção: quem lê, o que lê, e como lê.
A leitura como é vista hoje em dia é fruto de um avanço progressivo e lento, movido pelas novas exigências sociais, pela chegada de novos suportes, pela necessidade – e o desejo social- de democratização da leitura.
O que recomendo?
Qualquer recomendação deve estar ligada à consciência de que cada indivíduo só pode ler, de fato, aquilo de que gosta. Por “ler de fato”, quero dizer: ler penetrando e sendo penetrado pelo texto.
Desrecomendar me parece autoritário. Eu, pessoalmente, não leio auto-ajuda, ficção histórica, livros de ação e policiais.  Mas é uma questão de interesse pessoal, de projeto leitor (sim, um bom leitor tem um projeto de leitura). Leio com mais frequência ficção , ensaio, poesia . E jornal.
Personagens marcantes
Na infância, os dos contos de fadas. E Pinóquio, que viria a  traduzir para o português. Na vida adulta, muitíssimas, entre elas, Raskolnicoff, de Crime e Castigo. Gregory Samsa, de A Metamorfose. Giovanni Drogo, de O Deserto dos Tártaros. Neles estão contidas a grandeza e a fraqueza da alma humana.

Sobre a importância do ato de ler.

 Elas estão contidas, e mais amplamente do que poderiam estar aqui, no meu livro “Fragatas Para Terras Distantes”.

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