SERGIO CABRAL

SERGIO CABRAL

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Tudo merece ser lido - Patrícia Kogut

“Tudo merece ser lido. Acredito na inteligência e
 no espírito crítico do leitor.”
Patrícia Kogut - Jornalista



Tenho livros que marcaram a minha infância guardados até hoje na minha estante. Um deles é "Vulcões e Terremotos", que me encantou com relatos sobre a erupção do Vesúvio Pompeia e outras tragédias afins. Outros são da Condessa de Ségur (estudei na escola francesa do Rio): "Nouveaux Contes de Fées" e " Les Malheurs de Sophie" (minha filha se chama Sofia por causa desse livro). E uma coleção de aventura e mistério, " Le Clan des Sept", de Enyd Blyton.
     
Muitos livros me marcaram e penso muito neles volta e meia. A trilogia mais importante do Philip Roth ("A Marca Humana", "Pastoral Americana" e "Casei-me com um Comunista"); "Cândido", de Voltaire. "Anna Karenina", de Tolstoi. Todos os de Amin Malouf.

Anna Karenina
A epítome da sedutora, a expressão da paixão, de uma angústia bem feminina, o retrato de uma época, e ainda assim nada datada. Uma personagem sensacional.  

O principal a gente aprende nos livros

Adoro Machado de Assis. Queria, de verdade, ter conhecido e sido amiga de Lima Barreto. Sei que a obra dele é irregular e acho isso ainda mais interessante e enternecedor. Li muitos franceses, Voltaire, Rousseau, Balzac. Me formaram.  
A escola francesa estimulava demais a leitura e eu sempre gostei muito de ler. Depois, fui para a escola brasileira e sempre me liguei aos professores de português. Adorava literatura desde cedo. Estudei Letras (não concluí). Era a minha praia desde cedo. Tive um grupo de leitura na PUC. Líamos Borges, Bioy Casares, Cortazar e muitas outras coisas.  
Acho que a leitura ajuda construir um tipo de articulação. Organiza o pensamento, aparelha a pessoa para argumentar. E para sonhar. 
A leitura traz cultura e nesse sentido abre tantos horizontes quanto uma viagem. Acho que o principal a gente aprende nos livros. Ler é muito. Alfabetiza, humaniza, forma. Recomendo muito. 



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Monteiro lobato, Cassandra Rios, Joseph Conrad

“Willian Saroyan abriu minha percepção para a modernidade”

Caetano Veloso (compositor, escritor, cineasta...)

Lembro-me das palavras enquanto eu aprendia a ler, quanto à leitura de livros, isso veio mais tarde, lá pelos 12, 13 anos.
Minha mãe lia bastante, meu pai veio de um meio letrado, seus amigos, quando nos visitavam, mantinham conversas inteligentes...lembro-me de recitarem poemas, mas depois meu pai deixou de ser um leitor, não se preocupou em manter uma biblioteca própria, eu me lembro que tinha este desejo: ter uma biblioteca própria, com aquelas estantes repletas de livros. Santo Amaro não tinha livraria, isso é uma coisa das cidades brasileiras... lá tinha uma biblioteca pública, de onde eu pegava alguns livros, “Don Quixote” foi um deles, com aquelas ilustrações. Me lembro de aos 12, 13 anos ter lido Monteiro Lobato, e gostava muito, achava engraçado, “Chave do Tamanho” me chamou muito a atenção, lá tinha um pouco da história do mundo, Hitler, coisas de guerra, enfim...
Um pouco mais tarde, os meninos comentavam na escola sobre uns romances eróticos, não me lembro exatamente da autora, mas era uma paulista que escrevia textos eróticos, não eram revistas de sacanagem, eram romances eróticos, isso era motivo de comentário entre os rapazes da escola, vi prazer nesse tipo de leitura. O livro dela que mais me pegou foi "A lua escondida", (parece nome de filme de Mizoguchi, mas é uma história de paixão sexual entre um professor maduro e uma aluna adolescente). (O livro citado é de Cassandra Rios)

Lá pelos meus 15 anos, vi, no quarto da minha mãe, um livro que me encantou: “O jovem audaz no trapézio voador”,  de Willian Saroyan. Esse livro abriu minha percepção para a modernidade, ele tinha, pra mim, muita novidade, depois disso eu pude reconhecer, por exemplo, em João Gilberto, o que entendia sobre moderno.

Um autor de quem gosto muito e não citei é Joseph Conrad. Nem tanto pelo "Coração das trevas", que é bonito e tal, mas não me interessa tanto. Gosto mais de "Linha de sombra" e "Lord Jim". Mas o melhor mesmo, o que me faz pensar nele como um autor entre os preferidos, é "Under Western Eyes" ("Sob os olhos do Ocidente"). Aí ele faz um Dostoiévski virar profecia de que a Rússia faria uma revolução (foi escrito uns 7 anos antes do Outubro) apenas para manter a forma de poder autocrático que conhecia sob o Czar.



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O som: uma leitura de mundo - Mauro Senise (músico)


As palavras arfavam...ou Aro 16

Minha mãe me colocava perto do peito e lia pra mim Robinson Cruzoé. Essa leitura do afeto marcou minha infância. As aventuras de Robinson na ilha perdida no oceano me levavam mais pra perto daquele som da respiração que veio mais tarde trazer uma sensação de compassos, notas distribuídas pela vida de modo amoroso.
Mais tarde, fiquei um pouco distante da leitura, me sentia um pouco à parte de tudo, eu tinha uma estranheza, era assim na família, na escola, aliás a escola não me chamou para a leitura, tenho pouca lembrança desse exercício, mas a leitura ficou traduzida em mim como o mundo das emoções e isso foi bom. Desci muito o morro do Parque Guinle de bicicleta, corria com destreza, as mãos soltas no ar e eu em cima de um aro 16... As emoções ficaram e a leitura se foi por longos anos.
Cresci, assim como meus cabelos e intuições: eu era de outro mundo. Meu universo não tinha o enquadramento que todo o restante estava revestido. Tenho pouca ligação com a família, mas meu avô me chamou a atenção para um fato bem interessante: estávamos em Petrópolis, onde ele tinha uma casa avarandada com jardim. Certa vez, minha avó estava brincando comigo no jardim quando avistei meu avô andando a passos lentos com a cabeça inclinada para o alto, usando uma boina francesa, fiz menção de o chamar ao que fui interrompido pela minha avó: “não, menino, deixa seu avô, ele agora está pensando...”; fiquei intrigado e mais tarde entendi que ali estava um pensador, meu avô era o Alceu de Amoroso Lima, um homem altíssimo, que mais tarde veio a me dar de presente uma frase importante na minha vida.
 Até me interessei por outras coisas, o cinema, por exemplo, frequentava o Paissandu, queria entender Godard e tantos outros cineastas, tinha uns 16 anos nessa época... eu vivia uma confusão, passei a me interessar por música: os clássicos, Pixinguinha, chorinho... fui levado a escolher uma profissão: o jornalismo. Fui aluno da PUC, logo vi que não era meu caminho mesmo..., até achei interessante essa história de escrever, mas decidi estudar música. O som era a minha palavra. Já tinha passado muito tempo ouvindo o Rock’n Roll, tudo aquilo de comportamento desse movimento, não tinha tempo de ler um livro de papel, minha leitura, por muito tempo, foi sonora, a música me preencheu.

Dezembro de 1970

Essa é a data da minha primeira aula de música, eu tinha 21 anos. Foi ali que comecei a me encontrar, era ouvi um acorde e derramar uma lágrima, emoção e muito estudo. Conheci a leitura do som, a ternura, o movimento das pessoas, as alegrias alheias, os acordes eram meus personagens.  Paulo Moura me trouxe muito conhecimento, me levava para as gafieiras, me fazia ler o mundo assim, musicalmente.

Apenas uma sonata

Certa vez, em reunião familiar, fiz uma pequena apresentação de uma sonata... meus pais já estavam preocupados com meu futuro, afinal, música, sabe como é...e o emprego certo? Pois bem, minha mãe, acho que em uma tentativa de que meu avô me convencesse de seguir o jornalismo, o convidou para um almoço em família e na ocasião toquei uma sonata. Ao final, a família aplaudiu e senti que todos esperavam o comentário do Alceu. Ele meu salvou. Disse em bom som: “até que enfim um artista na família.” E aquela sonata, frases barrocas em flauta, e improvisos a serviram de presente nos seus últimos momentos de vida.

De volta aos livros

Ana, minha mulher, é leitora voraz; por causa disso, voltei, ultimamente, a rever meus livros e a buscar outros. Lembrei-me de “Confesso que Vivi”, do Pablo Neruda. É dele uma passagem que me traz à lembrança o poder da palavra enquanto memória e imagem; lembro-me dele falando sobre comida, algo como cor, odor, uma descrição tão precisa que quando estou diante de um bom cenário como aquele retorno ao que li. Vejo muitas vezes em leituras que percebo a feminilidade, a emoção, a curiosidade ... e a música vem à tona. A palavra modula, nos dá a possibilidade de mudança, é intensa, enfim, a palavra tem musicalidade.
Hoje leio muito e não obedeço a regras. Leio o que acho bom e importante. Estou em um momento de ler tudo da Marina Colasanti, genial escritora. Nélida Pinon também é fantástica! Adoro Veríssimo que começa apontando um fato pra lá de corriqueiro e termina, em pouco espaço, em um tratado filosófico. Gosto muito da acidez do Jabor. Admiro também a precisão das escolhas de José Castello, crítico de Literatura. Essas pessoas são interessantes, têm o que dizer, gosto de Rubem Fonseca, Rui Castro, de livro de memória de gente interessante.

Sabe, eu tenho uma coisa... eu digo: lê, que é isso que a gente vai guardar.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015



Marina Colasanti (escritora)
“Não leio para me distrair, leio por paixão, para saber, para aprender, para melhorar.”



Deslizei para dentro dos livros
Não tenho uma primeira lembrança, a emoção de um primeiro livro. Talvez porque sempre houve livros ao meu redor. Antes que eu soubesse ler, liam para mim. Ninguém nunca me contou contos, eles eram lidos. Desse modo, a presença física do livro está plantada no início da minha memória. E deslizei para dentro dos livros, como leitora, tão naturalmente, que nem me dei conta. O que recebi primeiro, das leituras que faziam para mim e, depois, dos primeiros livros, foram os contos de fadas clássicos.
Todas as histórias lidas fazem parte de mim
Centenas e centenas e centenas de histórias fazem parte de mim. Todas as lidas na infância e na juventude, com emoção e entrega. E mesmo depois, histórias inteiras ou fragmentos de histórias se abrigaram na minha memória, parte definitiva do meu butim de leitora. Venho lendo desde sempre, sem interrupção, há muitíssimos anos. A partir da maturidade passei a ler vários livros ao mesmo tempo. Impossível listar todas essas histórias, ou sequer as mais importantes.

Autores? Vários...
Os autores entraram por fornadas na minha vida. Fornadas de paixão, fornadas de oportunidade. Os contos de fadas, primeiro. Depois os clássicos adaptados (Ilíada, Odisseia, D. Quixote, Poe, Sir Walter Scott, os Mitos gregos, etc.). Seguiram-se os livros de capa e espada, muito Alexandre Dumas. Muitíssimos livros do italiano Emilio Salgari. Mark Twain. Todo Julio Verne. Swift. Defoe. Aí chega a adolescência. Dostoyevski foi um deslumbramento. E Tchecov, e Tolstoi. Depois descobri os americanos, Steinbeck, Hemingway, Dos Passos, Huxley, Fitzgerald. Cheguei à poesia, Aldo Palazzeschi primeiro, depois Cesare Pavese, Paul Eluard foi e é uma paixão, Bandeira e Drummond, Lorca. Encontrei o prosador francês Jean Giono, li um monte de livros dele, descobri a literatura japonesa.   E fui em frente na idade adulta, alternando de forma mezzo aleatória/ mezzo caótica, autores de diversos países, prosa e poesia, modernidade e passado. É impossível conseguir a completude dessa lista, não cabe na memória. E nunca poderia dá-la como terminada, uma vez que minha formação como leitora ainda está em curso, e se expande a cada novo livro que leio. Não leio para me distrair, leio por paixão, para saber, para aprender, para melhorar. No dia em que a leitura não estiver mais me formando, paro de ler.

Escola e leitura

Sou de outra escola, pelo menos no que diz respeito àquilo que chamávamos escola primária. Fiz o primário na Itália. E, nesse nível, a formação leitora não era tarefa da escola. Quem se encarregava disso era a família.



“A leitura não é a chave mágica para o acerto ou o sucesso.”
A leitura não é a mesma para todos os leitores. E sua atuação é diferente sobre cada leitor. Sobretudo, a leitura não é a chave mágica para o acerto ou o sucesso.
Muitos leitores leem apenas para se distrair, outros só se interessam por livros técnicos.  Isso não vai mudar seu modo de vida. A grande maioria dos livros que se publicam nada têm de enriquecedor.
A leitura de literatura, e isso é comprovado, é auxiliar poderoso no auto-conhecimento. E quem melhor se conhece está mais capacitado para fazer boas escolhas.
O efeito da leitura depende de uma conjunção: quem lê, o que lê, e como lê.
A leitura como é vista hoje em dia é fruto de um avanço progressivo e lento, movido pelas novas exigências sociais, pela chegada de novos suportes, pela necessidade – e o desejo social- de democratização da leitura.
O que recomendo?
Qualquer recomendação deve estar ligada à consciência de que cada indivíduo só pode ler, de fato, aquilo de que gosta. Por “ler de fato”, quero dizer: ler penetrando e sendo penetrado pelo texto.
Desrecomendar me parece autoritário. Eu, pessoalmente, não leio auto-ajuda, ficção histórica, livros de ação e policiais.  Mas é uma questão de interesse pessoal, de projeto leitor (sim, um bom leitor tem um projeto de leitura). Leio com mais frequência ficção , ensaio, poesia . E jornal.
Personagens marcantes
Na infância, os dos contos de fadas. E Pinóquio, que viria a  traduzir para o português. Na vida adulta, muitíssimas, entre elas, Raskolnicoff, de Crime e Castigo. Gregory Samsa, de A Metamorfose. Giovanni Drogo, de O Deserto dos Tártaros. Neles estão contidas a grandeza e a fraqueza da alma humana.

Sobre a importância do ato de ler.

 Elas estão contidas, e mais amplamente do que poderiam estar aqui, no meu livro “Fragatas Para Terras Distantes”.