SERGIO CABRAL

SERGIO CABRAL

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Um leitor, graças às influências - Nilo Cabral



 
 
Iniciei minhas leituras, já em idade um tanto avançada. Uma das mais antigas imagens traz o meu pai lendo jornais e livros que só vim a entender com mais idade. O sustento aos quatro filhos atrasou possíveis deleites literários. As motivação mais significativa foram enciclopédias que, embora menores em relevância intelectual, estimularam e estimulam, ainda hoje, a busca por textos mais complexos e originais. Das leituras mais marcantes de infância, recordo os contos infantis, selecionados pela enciclopédia “O Mundo da Criança”: não tenho certeza se foram as primeiras leituras, mas a experiência fantasiosa, como a de João Felpudo, de Heinrich Hoffmann e a história do Pinheirinho de Natal, de Cristian Andersen, legaram algo importante: embora singelas, permitiram o exercício de concentração a textos mais encorpados. 
As leituras mais longas e complexas ocorrem bem mais tarde, antes acompanhava algumas crônicas em jornais, sugeridas pela influência paterna e alguns cadernos publicados por jornalistas. As obras significativas vieram entre o fim da adolescência e início da idade adulta, influenciado quer pelos professores de um curso pré-vestibular de Porto Alegre, quer por uma paixão, sim, paixões também transformam intelectualmente as nossas vidas. Diante de novos desafios (conceitos, estruturas frasais, e palavras), tive que recorrer a dicionários e a mestres capazes de me trazer luz aquela densidade. Fui acumulando, assim, dicionários de filosofia, de sociologia, textos de iniciação à interpretação de texto, de língua portuguesa, bem como uma série de obras (e mestres) que me proporcionaram um alívio nesta caminhada. Embora tardia, a experiência consolidou não um perfil intelectual, mas, sim, um admirador pela palavra, pelo texto, pelas surpresas que a poesia ou a prosa podem trazer ao imaginário e à compreensão de mundo.
Neste mundo das letras, vários livros marcaram a minha formação, na poesia, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade e um pouco de Mário Quintana. Tive a sorte de ser instigado por um mestre da faculdade, logo no primeiro semestre, que propunha leituras mensais. Vim a conhecer neste momento alguns autores gaúchos, como Moacir Scliar, Josué Guimarães, Érico Veríssimo. Os mais marcantes? Difícil apontar, alguns conquistaram-me pelo argumento, outros pela estrutura textual. Algumas das mais incríveis experiências foram os contos infantis, de Andersen, a obra Espártacus de Howard Fast, o livro 1984 de George Orwell, Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Marquez, A Caverna e Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, entre umas tantas outras que me desafiaram tanto o imaginário, quanto a descoberta de um caminho novo para a minha formação. E quanto a personagens, bem, outra dificuldade é encontrar, entre tantos, os mais destacados. Tentarei citar alguns, os mais imediatamente marcantes. Lady Clark Milady é uma personagem fantástica, isto porque o autor construiu um perfil que agrega beleza e maldade, capazes de causar as mais terríveis consequências. Um outro destaque é igualmente uma personagem feminina, Catarina, do Romance A Ferro e Fogo, a coragem mesclada à sensibilidade marcaram-me profundamente. Há outros personagens, entre os quais Doran Gray, de Oscar Wilde, que oferece ao leitor (da época do romance) um desafio à moralidade, e hoje ainda uma crítica às várias expectativas de uma sociedade hipócrita.
 (Nilo Cabral é jornalista)

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